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A "britneyzação" de Tate McRae: em busca de uma nova suprema

Quando Tate estourou em 2023 com "Greedy", atingindo o #1 na parada Global do Spotify, muito se questionou sobre os próximos passo...
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Quando Tate estourou em 2023 com "Greedy", atingindo o #1 na parada Global do Spotify, muito se questionou sobre os próximos passos da artista. Não é novidade que o  mercado da música pop norte-americano vive uma fase extremamente volátil e competitiva. Agora, com cada vez mais artistas disputando por um pedacinho desse cenário, manter-se em evidência tem se tornado uma das grades preocupações para os artistas emergentes. 


Nessa escalada da artista, parece que Tate tem conseguido cativar a atenção do público lançando hits como "Ex", frutos do segundo álbum de estúdio da canadense, o intitulado "Think Later".


A busca por uma nova suprema não é algo novo. De tempos em tempos, sempre observamos um movimento nas redes sociais na consagração ou na tentativa de estabelecer uma nova suprema, uma sucessora "natural". Quem não se recorda da tentativa de enquadrarem Ava Max como a nova Lady Gaga? Ou, propriamente, a Lady Gaga enquanto sucessora da Madona? Parece-me aqui que essa ascensão de Tate relaciona-se, também, com uma comparação que a coloca em uma posição de destaque no cenário musical: a nova Britney Spears está entre nós! 


As comparações de Tate McRae com Britney Spears começaram de maneira tímida ainda com o lançamento de Greedy em 2023. Aos poucos, fomos percebendo uma construção e uma identidade visual bastante expressiva, com uma estética dos anos 2000 bastante presente, e com uma menção honrosa aqui aos movimentos corporais de dança com referências às grandiosas performers da época: incluindo Miss Britney Spears.


Vamos analisar alguns aspectos importantes que tem fomentado as comparações da nova queridinha dos americanos com a princesa do pop? Por etapas..


Apropriação de símbolos 


O uso do headset, por exemplo, é uma das marcas registradas de Britney Spears. E cabe ressaltar também que a eterna princesa do pop sofreu muito hate pelo uso do headset. Ou melhor, pelo uso excessivo do playback. O uso do headset era muito utilizado não só por Britney Spears, mas por Michael Jackson e outros artistas até meados dos anos 2000 pela facilidade que o equipamento proporcionava em apresentações que exigiam movimentos corporais exaustivos. No caso de Britney Spears, o instrumento tornou-se um elemento marcante e característico. 


Acontece que o instrumento, com o passar dos anos, foi-se tornando menos utilizado pelos artistas, pois a captação de áudio ficava comprometida em diversos momentos (o que reforça aqui o motivo de Britney utilizar o playback e bases pré-gravadas em suas apresentações).  Entretanto, recentemente Tate surgiu em um concerto utilizando o tão "aclamado" headset da Britney Spears. 


E é claro que os fãs observaram e comemoraram esse momento. E se isso não é o suficiente, aqui vai um link no Reditt onde você pode encontrar diversos apreciadores de música pop acusando Tate de fazer lipsync. Estrategicamente ou não, as comparações seguem nos mínimos detalhes.


O uso de easter eggs




Se você quer que as pessoas comentem sobre você, então dê a elas algo para comentar! Desde que esse movimento de comparação se iniciou, as similaridades na construção da imagem da artista com a carreira de Britney Spears se acentuaram (em níveis mais ou menos explícitos, pode-se assim dizer). Quero dizer, as comparações nem sempre são aceitáveis. Recentemente li em algum lugar que já temos a nova sucessora da Lady Gaga: pode entrar, Chappell Roan.

Nesse cenário, os anti-fãs, por exemplo, estão sempre à espreita para descredibilizar ou invalidar os argumentos levantados na sustentação dessas comparações. É como se um artista emergente tivesse, por obrigação, esse compromisso que lhe é facultado, muitas vezes, por um movimento orgânico e não coordenado estrategicamente por uma equipe.  Ava Max é um desses exemplos, que sofreu hate pelas comparações que recebia com Lady Gaga. Mas aqui o caso é diferente, porque esse movimento se inicia, propriamente, a partir da própria Ava Max. Nos dias de hoje, Ava tem retrabalhado sua imagem, tentando promover uma dissociação dessa comparação com Lady Gaga.  

Faço uma ressalva aqui quando digo "muita vezes", pois, somente trabalhos de investigação poderiam dar conta de toda a complexidade que envolve o entendimento dessas estratégias (sejam intencionais ou não). Por exemplo: o fato de experenciarmos essa "britneyzação" da Tate MaRae não significa, de modo algum, que não estejamos a considerar uma estratégia intencional. Ou, por outro lado, se de fato este movimento se inicia de maneira orgânica e, a partir daí, vemos os fãs contribuindo e impulsionando narrativas que façam sentido e gerem um engajamento positivo.


No clipe de "It's ok I'm ok" os easter egss estão presentes. São várias as referências a diversos momentos marcantes da carreira de Britney Spears, como vemos na imagem abaixo.


Para um bom twitteiro (podemos manter assim, ok?) os easter egss são um prato cheio para fomentar as discussões. E para os artistas, engajamento é sinônimo de sucesso. Dentre os exemplos mais marcantes do novo lançamento da artista, destaco aqui a referência ao clipe nunca lançado de "Outragerous" de Britney Spears. Essa é uma referência que só os olhares mais atentos poderiam perceber. Um clipe super aguardado que, inclusive, Britney sofre um incidente durante as gravações. Mas essa não é a única referência à Britney Spears no clipe. As alusões também acontecem em relação ao clipe de "I Wanna Go" e "Womanizer".

É nos fóruns de discussão, nos grupos do Facebook, nas rodas de conversa, que fomentamos essas discussões, e passamos a discutir o impacto cultural, o comprometimento da artista com as referências e, sobretudo, a qualidade (sonora/estética/audiovisual). Mas, há algo também que chama atenção que é a discussão em torno de uma linha bastante tênue entre a cópia e a autenticidade: a originalidade. Quão original um artista precisa ser ao mesmo tempo que se apropria e reutiliza de elementos simbólicos?

Tate referencia Britney Spears em diversas entrevistas, e reconhece o seu legado, mas se distancia das comparações (apesar de sabermos que este movimento está acontecendo). Acontece que, para o público, a "prepotência" é algo crucial. Ser a nova "sucessora" vem com responsabilidades e comparações que dialogam não apenas com as expectativas dos fãs, mas, sobretudo, de todo um sistema econômico e cultural ligado à indústria da música.  


Comparações enquanto um movimento nostalgizante


Ao meu ver, o elemento catalisador deste movimento também incide também na nostalgização que criamos em relação ao retorno de Britney aos palcos. Pode-se dizer que há para os fãs uma tentativa de buscar algum sentimento de pertença ou de reviver um momento da história que não pode ser acessado pela via original. É como se residisse aí uma tentativa de suplantar, remediar aquela nostalgia, aquela sensação de falta, por algo que permita, em alguma medida, desencadear alguma experiência afetiva similar àquela que gostaríamos de acessar.


Nesse sentido, parece-me que as comparações funcionam muito bem no caso de Tate. As referências estão ali. Mas ela também adiciona elementos e novas camadas que promovem esse distanciamento da "cultura da cópia". Não temos uma cópia de um produto; mas temos um produto totalmente fresh, com referências e um repertório cultural que vai ao encontro dos nossos interesses enquanto consumidores.


Parece que é com base nesse entendimento que Tate vem definindo os seus passos: escutando e incorporando os anseios dos fãs em suas obras. Realmente, a canadense tem feito escola e os fãs tem prestado um fan-service de primeira! É isso, meus amigos! A britneyzação da Tate McRae é REAL!

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