É nítido que a proposta do álbum 143 se concretiza de maneira menos inovadora (aqui em termos sonoros) em relação aos seus álbuns anteriores. A construção estética, realmente, deve receber uma menção honrosa dentro do meu ponto de vista. Os visuais e a identidade visual proposta dentro deste universo fantasioso, com um toque de futurismo hiper-realista, apresenta uma inovação dentro dos trabalhos da artista. Sonoramente, o álbum 143 pode soar como uma "tentativa" de Katy em amalgamar batidas e gêneros musicais, com potencial radiofônico, mas que parece não funcionar muito bem nos dias atuais. Principalmente quando consideramos as novas tendências estimuladas pelo TikTok, por exemplo.
Mas Katy deve ser penalizada por tentar reconstruir uma atmosfera pop anos 2010, com canções que apresentam letras mais genéricas e menos poéticas? De fato, as músicas são tão descartáveis assim? Se analisarmos todo o cenário musical contemporâneo, creio que há, notadamente, uma perseguição midiática contra Katy Perry. O esforço visível nessa tentativa de criar canções que soem como potenciais hits tem recebido críticas fantasmagóricas, que descredibilizam o trabalho da artista, classificando-a como uma subcelebridade numa posição que reduz todo o seu legado na indústria musical. Certamente, podemos não ter aqui uma evolução sonora ou uma produção mais coesa ou mais inovadora, ok. Talvez não seja o caso de levarmos tudo à exaustão, não é mesmo?
Ganhadora do Vanguard Music Awards 2024, Perry trouxe uma performance celebrando diversos hits de sua carreira, além do último single "I'm His, He's Mine" e "Lifetimes".
Em 143, a primeira grande tragédia anunciada acontece com o lançamento de "Woman's World", lead single do álbum. Produzida por Dr. Luke, a faixa dá o start em um era conturbada, que direciona os olhos do público e da crítica pela escolha da artista em trabalhar com um produtor acusado de assédio. Acredito que a pergunta que vale aqui é: por qual motivo? A qual custo essa parceria foi idealizada como algo promissor para a carreira da artista? Obviamente, falamos aqui de decisões que poderiam ser evitadas. Mas, o que sobressai dessa decisão é justamente a intencionalidade em trabalhar com Luke. Não podemos partir do pressuposto que não houve um estudo de risco apurado e crítico aqui acerca dos riscos e das ameaças que envolviam essa aproximação. Certamente houve sim!! O que nos resta saber é: quais os termos e as condições para promover esse retorno de Dr. Luke? Neste momento, podemos concordar que já tínhamos uma tragédia anunciada.
Música para os críticos ou para o público?
Embora 143 não tenha conquistado o gosto dos críticos, o álbum parece ter recebido uma aceitação razoável por parte dos fãs. Especialmente dos fãs brasileiros, visto que parte das suas estratégias foram direcionadas ao público brasileiro, com direito a participação no reality "Estrela da Casa" e no "Mais Você". Realmente, não me recordo de um artista pop internacional que tenha concentrado tantos esforços na divulgação de um álbum em solo brasileiro. Ainda que agora observamos uma onda crescente de artistas centrando seus esforços no público brasileiro, Katy demonstra um amor pelo país há muito tempo e, com certeza, estar no Brasil lançando e promovendo o seu álbum no meio de um público ávido, que a acompanha e a acolhe há tanto tempo certamente é algo a ser considerado. A passagem estratosférica no Rock in Rio 2024 comprova o seu amor pelo público brasileiro. "Esse show é único para o Brasil, eu não irei repetir esse show em lugar algum", disse Perry em entrevista.
Com um concerto babilônico, Miss Perry se consagra como uma das melhores performers da cena pop contemporânea. No Rock in Rio, suas músicas foram entoadas por mais de 100 mil pessoas. 100 MIL PESSOAS! Todas cantando ao mesmo tempo o refrão da fatídica "Woman's World" e da apoteótica "Lifetimes". Isso prova que os fãs estão ao seu lado provando que ela é do povo, ela é brasileira!!!
I will never trust twitter again, i thought she was end but 100,000,000 people knows her new songs lyrics word by word.
— Timotheos (@boyfrommooon) September 21, 2024
It’s #KatyPerry world pic.twitter.com/Pvje7Z00nH
Quais os próximos passos?
O lançamento do álbum 143 acumula o pico do álbum com maior número de resenhas negativas no Metacritic desde 2011. O album consiste, sobretudo, numa afirmação da própria Miss Perry em mostrar que está ao lado do público, e que suas músicas são feitas para os seus fãs, e não para agradar charts. Percebemos isso quando analisamos as suas estratégias de divulgação, que se distanciaram um pouco das estratégias convencionais utilizadas por muitos artistas, que incluíam apresentação em programas de televisão, entrevistas na gringa. Assim, parece-me interessante questionar os próximos passos: como equilibrar esse abismo entre o ódio da crítica e o amor dos fãs? O que deve prevalecer? Existe um plano de emergência?
Sob uma perspectiva crítica, e mais voltada para a gestão artística, o grande problema aqui está numa gestão de carreira que parece não estar no mesmo calibre de artistas como Lady Gaga, que também enfrentaram boicote das indústrias em lançamentos de álbuns. Como pode a gestão de uma artista consagrada e renomada não conseguir gerir uma carreira acompanhando o cenário e concatenando um equilíbrio entre o público e a crítica? A reposta pode chocar alguns (mas deixarei para um outro post). Ignorada pelas principais premiações por anos, como o Grammy, Katy parece não estar tão preocupada (assim como seus fãs estão). O que nos resta é acompanhar as cenas dos próximos capítulos. Talvez, o amor dos fãs seja a cura para tudo.
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